Mulheres de Osasco e região se unem contra o feminicídio

por Divisão de Comunicação publicado 29/03/2019 17h15, última modificação 29/03/2019 17h15
Audiência Pública debate ações de enfrentamento à violência contra a mulher

Deniele Simões

Em Audiência Pública na noite desta quarta-feira (27), lideranças políticas, autoridades e representantes da sociedade civil discutiram o tema “Enfrentamento da Violência contra a Mulher”. O encontro, proposto pela Comissão de Políticas Afirmativas de Raça e Gênero, foi marcado por grande participação popular e depoimentos de vítimas de violência doméstica, que defendem a união entre as mulheres para barrar esses atos.

As palestrantes da noite foram a representante da Polícia Militar Unidade CPA M8 – Região Oeste, Major Eunice Rosa Godinho, e Diretora do Sindmetal de Osasco e Região, Mônica Velloso. Além delas, usaram a tribuna lideranças políticas e representantes de coletivos ligados à luta pelos direitos das mulheres.

A bancada feminina da Câmara, composta pelas vereadoras Ana Paula Rossi (PR), Dra. Régia (PDT) e Lúcia da Saúde (DC) participou ativamente do evento, que também contou com a presença das vereadoras Professora Cida Carlos (PT), de Carapicuíba, e Nelci Santos (SD), de Santana de Parnaíba. As parlamentares estão unindo forças para criar uma grande frente nas cidades da região Oeste para ampliar o trabalho em favor das mulheres.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Ao usar a tribuna, a Major Eunice Godinho deixou claro que a violência doméstica atinge várias formas e atinge diversas classes sociais. Ela defendeu a prevenção primária como solução para o problema da violência. “Os policiais não patrulham os corredores de uma casa”, alertou.

Mônica Veloso lembrou que a violência ainda está atrelada ao machismo e ao modelo patriarcal de sociedade vigente no Brasil. Além disso, os equipamentos oferecidos pelo poder público ainda deixam a desejar, como é o caso das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM), que não funcionam à noite nem nos fins de semana – períodos em que são mais frequentes os casos de violência a violência contra a mulher. 

A representante da Associação das Travestis e Transexuais de Osasco (ATTO), Alessandra de Souza, lamentou as mortes de mulheres, transexuais e travestis. “O Brasil é o país que mais mata travestis, transexuais e lésbicas. A gente tem que ter políticas públicas para sair dessa estatística, lamentou.  

VÍTIMAS NÃO SE CALAM

O momento mais marcante da Audiência foi a participação de mulheres que foram vítimas de atos de violência praticados por seus parceiros.

A funcionária pública Andréia de Azevedo Pires foi esfaqueada em dezembro do ano passado e quase foi morta pelo ex-marido, que não aceitou a separação. Após os ataques, ela enfrentou problemas emocionais, mas seguiu firme no propósito da separação e fez questão de usar a tribuna para encorajar mais mulheres a não continuarem caladas.

“É preciso aprender a ler as entrelinhas do relacionamento para sair na hora certa. Quando aprendi, paguei o preço por dizer não e espero que todas as mulheres que sofrem tenham essa mesma coragem”, disse.

A pedagoga Danielle Brandão relatou as agressões que sofreu há 10 anos, quando estava grávida, e que perduraram por cinco anos, até ela conseguir ter coragem para denunciar. A vítima relatou preconceito dentro da delegacia de polícia quando foi registrar os boletins de ocorrência. Mesmo diante das dificuldades, ela não desistiu e hoje tem uma nova vida. Casou de novo e constituiu família. “Vim aqui porque a gente não pode se calar e a minha história vai servir para muitas mulheres que sofrem violência”.

DEMANDAS

A Vereadora Dra. Régia, que presidiu a Audiência, acredita que ainda há muito a fazer, mas que os primeiros passos já foram dados com a união entre vereadoras das cidades da região Oeste. “A gente precisa, além das Delegacias das Mulheres trabalhando 24 horas e dos Centros de Referência, de acolhimento, porque a mulher que é agredida depende emocional, familiar ou financeiramente dessa relação”, defendeu.

A Vereadora Lúcia da Saúde propôs a realização de um Fórum de Mulheres em continuidade às ações que já foram promovidas para discutir os direitos da mulher, desde o início do ano. “Esta audiência foi feita para ser a voz de cada uma das mulheres que estão aqui. Esse trabalho pretende fortalecer essa luta e nossa Casa está aberta para vocês”.

Já a Vereadora Ana Paula Rossi lembrou que as mudanças estruturais que implicariam na diminuição da violência acontecem devagar e que questões comportamentais contribuem para agravar o problema. “O que tem que prevalecer nas nossas relações, em geral, é o respeito, que a gente percebe que as pessoas perderam, e também o amor, que esfriou”, lamentou.